14/02/2010 - Pier Jacuípe Residence

Em Salvador os principais pontos de mergulho estão justamente a poucos metros do circuito do Carnaval, o que dificulta aquela apnéiasinha básica que tanto gostamos ... isso sem falar na quantidade de lixo, falta de segurança e outros problemas que assolam a cidade por estes dias que os turistas tanto gostam ... bom, para fugir desse caos tive o privilégio de passar uns dias em um apartamento no Pier Jacuipe Residence, um condomínio fechado às margens da foz do rio Jacuípe no município de Camaçarí, a uns 30km aproximadamente de Salvador ... o triste é que com certeza a área onde o tal condomínio foi erguido um dia já foi um belíssimo manguezal como ainda o é na margem oposta ... é, mas não é para falar do condomínio que estou aqui.

No domingo de carnaval, dia 14 de fevereiro, decidí conhecer o rio por baixo d'água, na verdade, decidi me lembrar de como era uma vez que em meados da década de noventa fiz uns merguhos neste mesmo local a procura do motor de uma embarcação que havia ido ao fundo.

Neste mergulho atual a água estava até clara no raso, com visibilidade vertical maior que a horizontal (acho que eu nunca tinha visto algo assim), mas a medida que ia para o fundo a água escura do rio segurava a luminosidade e não permitia ver o fundo.

O mergulho não foi muito longo devido as limitações e pelo fato de eu estar sozinho dentro d'água onde foi possível observar alguns pequenos cardumes de tainhas (Mugil sp.) de diversos tamanhos, de individuos com aproximadamente 3 cm a indivíduos com até 15 cm ou mais, além de alguns Eucinostomus spp. medindo de 2 a 3 cm, alguns Bathygobius soporator e muitos peixinhos da família Poecilidae demonstrando a forte influência das águas do rio ao ambiente ... muitos sirís (Portunidae) foram também observados, além de um baiacú (Sphoeroides testudineus).

Fiz este mergulho de certa forma sozinho um avez que a Ví não entrou na água neste dia além da altura do joelho.

06/02/2010 - Blackadder

Cavalo-marinho (Hippocampus aff. erectus) e minha mão

Para começar, o percurso, desta vez estava muito longe em relação ao destino de mergulho e ainda tinha que pegar todo mundo no caminho e passar na casa de Guga para pegar a carretilha e a maquina fotográfica ... levamos um bom tempo nesse trajeto e quando chegamos encontramos um portão impedindo ilegalmente o acesso à rua Prof. Isaias Figueiredo ... e não se trata de um condominio ou loteamento, mas de uma rua ... tivemos que estacionar em uma praça próxima e ir andando para a praia com todas as tralhas e sacolas que tivemos que deixar na confiança em um dos bares da praia.

Rua Isais Figueiredo e o local onde foi instalado o portão que dificulta o acesso à praia da Boa Viagem

Eu concordo que algo deve ser feito pois nos finais de semana a rua fica cheia de carros, sem vaga para os moradores, e para piorar muitos dos carros pertencem a aqueles caras de extremo mau gosto musical mas que gastam os tubos para colocar um sistema de som compatível com o de um trio elétrico em seu carro.

Bom, vamos pular o problema do portão e vamos falar do mergulho ... enquanto eu e Ovinho fomos mergulhar com equipamento SCUBA, a Ví e a Doty mergulharam em apnéia.

Caímos na água às 9:45h e fomos até o naufrágio onde fiz quatro transectos AGRRA (a intenção era fazer mais, mas infelizmente a minha carretilha emperrou e tive que me contentar com os quatro que fiz neste mergulho) e rodei um Rover Diver Census (RDC) de 45 minutos onde registrei 44 espécies distintas. Os dados obtidos neste mergulho pertencem ao Projeto de Caracterização da Ictiofauna dos Naufrágios de Salvador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática).

Os destaques neste mergulho ficam para o registro de dois pequenos gramas (Gramma brasiliensis), peixinho que a muito eu não via na região, e em especial em um lugar tão explorado pelos coletores de peixes ornamentais ... felizmente eles não estão fáceis de serem encontrados por quem mergulhar em apnéia.

Grama (Gramma brasiliensis) registrado no Blackadder ... a foto está desfocada, mas vale o registro.

Outro destaque foram os cavalos-marinhos que registrei, quatro ao todo, sendo duas fêmeas e um macho da espécie Hippocampus reidi e uma fêmea da espécie H.aff.erectus.

Fêmea de cavalo-marinho (Hippocampus aff. erectus)

Fêmea de cavalo-marinho (Hippocampus reidi)

Macho de cavalo-marinho (Hippocampus reidi)

Fêmea de cavalo-marinho (Hippocampus reidi)

Foram fotografados também: salemas (Anisotremus virginicus), linguados (Bothus lunatus), amborés-vidro (Coryphopterus glaucofraenum), um neon (Elacatinus figaro), uma garoupinha-gato (Epinephelus adscensionis), uma mutuca-de-orelha (Ophichthus ophis), dois ciliares (Holacanthus ciliaris), um biquara (Haemulon plumieri), diversos Haemulon aurolineatum, diversos Eucinostomus sp., barrigas-brancas (Serranus flaviventris) e dois parús (Pomacanthus paru).

Salema (Anisotremus virginicus)

Linguado (Bothus lunatus)

Amboré-vidro (Coryphopterus glaucofraenum)

Neon (Elacatinus figaro)

Garoupinha-gato (Epinephelus adscensionis)

Mutuca-de-orelha (Ophichthus ophis)

Ciliares (Holacanthus ciliaris)

Biquara (Haemulon plumieri)

Haemulon aurolineatum

Eucinostomus sp.

Barriga-branca (Serranus flaviventris)

Parú (Pomacanthus paru)

Vale lembrar também que quando entramos na água, ainda na laguna formada antes do recife encontramos vários "pedaços" de tubarões da família Carcharhinidae, provavelmente do gênero Rhizoprionodon ou então exemplares jovens de tubarões de outro gênero desta família, espalhados em baixo d'água.

Cauda de tubarão (Carcharhnidae) e outros "pedaços" deste peixe registrados na praia da Boa Viagem.

Neste mergulho observei também um mergulhador com um "bicheiro" (instrumento de metal com ponta curva e aguda) machucando ouriços (Echinoderma) e provavelmente à busca de polvos.

Corongo machucando ouriços (Echinoderma) com um "bicheiro"

O mergulho durou 70 minutos.

Estavam comigo neste mergulho como já foi dito, a Ví, o Ovinho e Doty.

Bruno (Ovinho)